quinta-feira, 21 de julho de 2011

Troca de cartas ainda sobrevive ao tempo


Fonte: www.aletria.com.br (Aletria Instituto Cultural)
Por: Marianne Piemonte, da Revista da Folha

Foram bem traçadas linhas que possibilitaram o encontro da decoradora Sylvia Souza Naves, 81, com o surrealista Salvador Dalí (1904-1989), em uma das suntuosas suítes do hotel Ritz de Madri, em 1968.

Quando soube que o artista estava hospedado no mesmo hotel em que ela passava férias, Sylvia correu até a escrivaninha de seu quarto. Com letra de calígrafa e texto formal, pediu em cinco parágrafos um encontro com o ídolo, em nome "dos amantes da arte no Brasil".

Resultado? "Ele me recebeu todo vestido de preto, apenas com um foulard [echarpe] branco. Usava uma bengala com ponta em prata e acariciava uma tartaruga. Antes de eu ir embora, me disse para contar aos amigos brasileiros que eu havia me encontrado com Dalí, o magnífico", recorda -ou melhor, jamais se esquece.

Apesar do destinatário ilustre, essa não foi a única correspondência marcante na vida de Sylvia. "Se eu juntar todas as cartas, é possível montar um livro com a história da minha vida", diz. E os capítulos seriam muitos. Entre eles, os das cartas de amor. Como ficou viúva muito jovem, aos 42, Sylvia passou a viajar pelo mundo. Quando voltava, além de suvenires para a família, trazia um amor na bagagem. Ao lado dos selos das cartas de seus admiradores há carimbos dos Estados Unidos, da França e da Espanha.

Escrever diante de uma bela janela, ao lado de uma xícara de chá fumegante, passar a língua na borda do envelope, selar e depois trazer a carta junto ao peito num suspiro pode parecer cena de filme antigo. Mas não é.

A exemplo de Sylvia, anualmente cerca de 850 milhões de cartas -cartas mesmo, de pessoa física para pessoa física- passam pelos postos dos Correios. Esse número corresponde a 10% do que eles chamam de objetos postais, que são contas, encomendas e malas-diretas enviadas e recebidas no Brasil. De acordo com o consultor da presidência dos Correios, Fausto Weiler, a porcentagem é a mesma há mais de dez anos, mas esses números crescem progressivamente. "Acreditamos que a carta nunca morrerá. A internet é apenas uma maneira a mais de se comunicar", diz.

Outros dados confirmam a tese do consultor. Em 1994, quando a internet começava a se alastrar por aqui, os Correios circulavam 4,6 bilhões de objetos postais. Hoje, esse número dobrou. Ou seja: mesmo com o advento do e-mail, as pessoas não deixaram de postar -a correspondência comercial, claro, mas também a pessoal.

Presença humana
Para o professor de literatura brasileira da faculdade de filosofia e letras da USP Marcos Antonio
Moraes, carregar uma carta consigo é o mesmo que levar um pedaço de alguém querido no bolso. "O papel fica impregnado da presença humana, deixamos partes de nossas vidas entre as pautas de uma carta", acredita.

O mesmo diria o engenheiro Marcos Augustinas, 39, que trabalha como diretor estratégico de uma agência que faz eventos para Cartier e Louis Vuitton. Uma das cartas que a mãe lhe enviou em 1996, durante o período em que estudava na região da Capadócia, na Turquia, é guardada por ele como jóia de família. "Foi nessa troca que consegui expor meus sentimentos e resolvemos as diferenças de uma vida", diz. Ele conta que é possível perceber pelo tipo de letra quando ela estava tensa ou feliz.

Mas o costume de escrever longas cartas à mão não surgiu ali. Desde os dez anos ele envia e recebe cartas de amigos e familiares. Marcos nasceu em Guaíra, no Paraná. Ainda menino se mudou com a família para uma fazenda próxima à ilha do Bananal, antes da criação do Estado de Tocantins. Para estudar, teve de morar em Araguaina, cidade que na época pertencia à Goiás, e a única forma de comunicação com os pais era por carta.

Hoje ele trabalha diariamente de frente para o computador. Mas faz questão de se sentar nos momentos de folga para redigir extensas e calorosas cartas para os amigos que deixou em Londres, Los Angeles e Paris.

O cenário que o inspira é a sala de seu apartamento na avenida Nove de Julho, diante de uma ampla janela. "Todo ano faço uma boa limpeza nos armários e jogo fora papéis e objetos, mas de forma nenhuma consigo me desfazer das mais de 2.000 cartas que acumulei ao longo da vida."

Papéis de carta: extintos
Talvez as colegas de Thainá Simões de Silva, 15, não saibam o significado da palavra missiva e nem que, na maioria das vezes, as pessoas que enviam cartas esperam receber respostas. Mas isso não desanima a estudante carioca. "Não quero deixar o hábito morrer, por isso chego a ligar para lembrá-las de me responder."

Há dois anos em São Paulo, as amigas e parentes que ficaram em Volta Redonda (RJ) são seus destinatários prediletos. "Parece que as meninas daqui não têm esse costume", diz, indignada.

Diante de um monitor LCD de 17 polegadas, depois que desliga o MSN (programa de mensagens instantâneas) ela enfeita as folhas do fichário com adesivos e carimbos -já que os românticos papéis de carta ficaram aprisionados nos anos 80 e se tornaram objetos em extinção nas papelarias atuais- e começa a redigir a cartinha do dia. "As meninas dizem que não têm tempo de escrever, mas quem tem
tempo para o computador têm para as cartas, não é?"

Thainá guarda tudo em um fichário organizado com o nome das amigas em ordem alfabética. Ela diz que sente como se estivesse recebendo "um carinho" quando chega uma carta, por isso não tem coragem de jogar nem os envelopes fora.

Resposta na caixinha
(não a de entrada)
Há dez anos, a advogada Eny Lopes da Silva, 66, resgatou uma amizade por correspondência. O motivo de sua primeira carta para o professor Benedito Ortiz, 91, foram ações de uma companhia telefônica. Mas não pense que o assunto era separação de bens.

Conterrâneos de Dois Córregos (288 km a noroeste de SP), os dois eram vizinhos, além de professor e aluna. Naquela época, o pai de Eny comprou o telefone de Benedito e, tempos depois, quando recebeu a notícia de que os primeiros donos das linhas tinham direito às ações do companhia, ela resolveu escrever ao antigo professor para contar a boa-nova.

Para surpresa da aluna, que jamais se esqueceu da letra do professor no quadro-negro, a carta foi respondida com entusiasmo -porém datilografada.

"Mandei outra perguntando se ele poderia escrever à mão, porque eu me lembrava de como era bonito o desenho da letra dele e de suas severas lições de gramática. Pedi também que ele não lesse minhas linhas com correção, mas com o coração", conta.

A partir daquela carta, eles nunca mais deixaram de se corresponder.

Ela diz que o encontro epistolar com Benedito a fez reviver sentimentos que pensava ter esquecido. "O ritual de levar a carta aos Correios e olhar diariamente a caixinha na esperança de encontrar a resposta é uma ansiedade deliciosa.

"Eny tem os três filhos morando nos Estados Unidos e para eles costuma redigir e-mails diariamente. Mas, para o velho amigo, gosta de sentar-se à mesa da sala e escrever sobre a vida sem pressa. Quando Bethysa, 29, a mais nova, visita a mãe, elas gostam de reler as cartas do professor. "Muitas vezes até me emociono com a forma bonita de ele lembrar o passado. A Be diz que essas cartas são uma relíquia", fala.

No que depender da atriz Mel Mariá Simão Longhi, 21, Be pode ficar tranqüila. Relíquia ou não, o hábito de escrever, por ela, resistirá por gerações. "As pessoas falam da rapidez e da praticidade do MSN, mas, na verdade, está todo mundo se comunicando menos. Somos 'passadores de recados'. Na carta, dá para sentir o outro próximo, pois sei que só aquela pessoa tem aquela letra", diz.

Como a maioria dos missivistas, Mel não consegue se desvencilhar de seu acervo. "Já tentei jogar fora as que me fazem mal, mas acho que até elas são parte da minha história."

Não é com essa deferência, no entanto, que costumamos tratar esses documentos da escrita, diz o professor Marco Antônio Moraes. "O Brasil ainda não dá a devida importância ao estudo das cartas", afirma. Se resolvermos prestar atenção a esse vasto material -seja aquele da nossa própria adolescência, para quem tem mais de 30 anos, ou ao de nossos antecessores, objeto para estudo não faltará. Basta lembrar que a história do país começou com a carta de Pero Vaz de Caminha,
que nunca soube o que é MSN.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Cartas no Cinema - Dica de Filme

Cartas para Julieta

Título original: (Letters to Juliet)

Lançamento: 2010 (EUA)

Direção: Gary Winick

Atores: Amanda Seyfried, Gael García Bernal, Vanessa Redgrave, Christopher Egan.

Duração: 105 min

Gênero: Comédia Romântica

Sinopse:
Sophie (Amanda Seyfried) é uma aspirante a escritora e juntamente com noivo Victor (Gael García Bernal), que sonha em ter seu próprio restaurante, viaja para a Itália. Em Verona, onde se passou a história de Romeu e Julieta, local perfeito para uma lua de mel antecipada, Sophie acaba percebendo que seu noivo está mais interessado nos fornecedores para seu restaurante do que nela. Na cidade, descobre uma antiga carta de amor e junta-se a um grupo de voluntárias que responde estas missivas amorosas. Para sua surpresa, a remetente Claire Smith (Vanessa Redgrave) ouve o conselho dado na resposta e vai procurar Lorenzo por quem se apaixonou na juventude. Mas existem muitos italianos com o mesmo nome e Sophie mostra interesse em ajudá-la na tarefa, desagradando o neto Charlie (Christopher Egan) que já tinha reprovado essa louca aventura da avó viúva.


sábado, 16 de julho de 2011

Das coisas que fazem uma carta especial...


Hoje, o hábito de escrever à mão está em extinção. Temos o computador, a assinatura digitalizada, o cartão, o carimbo. E aí se vai uma das coisas que tornava as cartas algo tão especial: a letra de uma pessoa.
Veja o texto de Martha Medeiros publicado no Caderno Donna, do Jornal Zero Hora, no dia 17 de julho de 2011. Clique na matéria para ampliar.

Amor por Escrito

Lançamento de livro: "Cartas de Amor de Mulheres Notáveis"
Matéria publicada no Caderno Donna, do jornal Zero Hora: 17 de julho de 2011
Clique na imagem para ampliar.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Cartas Históricas e Famosas na Net

O inglês Shaun Usher, 31, teve destaque em blogs como o Boing Boing e recebe hoje mais de 50 mil visitantes por dia. Tudo porque resolveu “garimpar” cartas, memorandos e telegramas fascinantes. Alguns destes achados podem ser lidos na integra no Blog. Há desde um manuscrito do século IX até uma carta de Mick Jagger para Andy Warhol. Usher começou a blogar em 2007, para passar o tempo. Seu primeiro Blog, Deputy Dog, sobre arquitetura, o fez pensar na internet como mercado. Largou o emprego e passou a escrever para sites, ao ponto de ficar sem tempo para atualizar o blog. O blog vale uma visita e é uma grande fonte de curiosidades.
Recentemente, Usher, postou um memorando de Matt Stone, um dos criadores de “South Park”. Enviado antes da estreia do longo, em 1999, para a Motion Pictures Association of America, fala sobre cortes feitos para que o filme pudesse ser visto por adolescentes. Um dos manuscritos preferidos do blogueiro é um modelo de texto para um convidado enviar ao anfitrião de um jantar pedindo desculpas por ter ficado bêbado. O manuscrito “de etiqueta”, do ano 856, foi localizado por pesquisadores na China. “É incrível pensar que há tanto tempo as pessoas já faziam papel de idiotas ao jantar. “Não importa o quanto avancemos em tecnologia, nossas personalidades são iguais”, disse Usher à Folha de São Paulo. Uma ótima fonte de diversão, pesquisa e curiosidade. Vale cada click. A carta reproduzida em nosso Post é do poeta John Keats para sua amada Fanny Brawne. A carta foi enviada logo após o rompimento do casal. Keats morreu em 1825, aos 25 anos. Vitimado pela tuberculose.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Para inspirar




Todas as cartas de amor...

Fernando Pessoa
(Poesias de Álvaro de Campos)

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos, 21/10/1935

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Estréia

De:Para:
Espetáculo de Dança
Bailarinos: Karen Ibias, Mariano Neto, Simone Lyrio e Teté Furtado
Estréia: 20 de outubro de 2011 (quinta-feira)
Hora: 21h

Local: Teatro Renascença
Ingresso: R$ 15,00 (R$ 7,00 para idosos, estudantes e classe artística)
Informações: (51) 9959-3277
Apoio: Núcleo de Arte & Dança e Karen Ibias Ballet

Virgínia Woolf




A carta de Virgínia Woolf a seu marido, escrita em 1941, está entre as selecionadas pelo grupo para ser transcrita em movimento.

Sobre o espetáculo

De:Para: é um espetáculo de dança baseado no livro "As Grandes Cartas da História", de M. Lincoln Schuster, publicado em 1942. O espetáculo traz a releitura de 10 frases de cartas que marcaram a história.
Nos dias atuais, as cartas estão desaparecendo. Mas, em outros tempos, foram um meio de comunicação importante; ao documentar fatos, revelar sentimentos, expressar emoções e idéias. Toda carta é uma versão. A partir disso, buscamos dançar nossas versões sobre elas, usando como "escrita" a música e a dança.
De:Para: também aborda a questão de que as coisas sempre são feitas de alguém para outro alguém; seja no campo do amor, da guerra, da dor, das inovações. A arte, e, nesse caso, a dança; também possui entre as suas finalidades a de ser feita para a apreciação do outro, podendo gerar inúmeras interpretações e sentimentos. E, assim como as cartas, são uma versão da realidade, das emoções; são um ponto de vista.